quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Era

Pintava quadros que ninguém comprava, compunha músicas que ninguém gravava, escrevia poesias que ninguém lia. Os pedestres passavam por ele e não o notavam. Ninguém o notava. Não tinha identidade, não tinha papéis, nem direitos. Tinha histórias, mas ninguém sabia. Era destes invisíveis que se escondem nos rostos que ninguém vê, todos os dias. Se dizia artista de rua, dos becos, das portas fechadas. Bebia muito quando ganhava alguma coisa. Ninguém sabia quanto tempo ele vivia naquela esquina. Como ninguém percebeu o dia que ele morreu. Era, mas não existiu.

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