quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Sobre os astronautas


Astronauta, além de um sonho de infância, é a vontade de ver o mundo do alto, sem os pés no chão e com aquela sensação de pequenez, incapacidade, de pouco a ser mudado, transformado, fundido ou diluído. É poder observar os acontecimentos da vida do alto, ora com vontade de ser parte deles, ora com a desculpa de estar longe, talvez em outra galáxia. Falar de astronauta é falar daquilo que é novo e arcaico. Novo pelas infindáveis capacidades de superações tecnológicas, de megalomaníacas estruturas que tornam o homem pequeno em relação àquilo que ele mesmo criou. Velocidade do som, da luz, do pensamento conectados a uma rede cibernética, onde tudo é permitido. É a terra sem lei, dos infinitos riscos e possibilidades. Já o astronauta primitivo lida com a vontade que deu origem aos mitos, crenças, religiões e à ciência. Conhecer as minúcias do grande mundo, de onde surgimos, para onde vamos, quem comanda a dinâmica da natureza. Eram os deuses astronautas? A mistura do novo e do antigo perpassa os dilemas de quem vive no espaço, seja ele qual for. No filme “2001: Uma odisséia no espaço”, a famosa imagem da colossal estação orbital foi acompanhada de uma das valsas mais tradicionais e démodés da Europa. Inspirado na ideia, o grupo “Os Mutantes” incrementou, no mesmo ano do lançamento do filme, um arranjo caipira à letra de “Astronauta Libertado”, de Tom Zé. A música, que ganhou o nome de “2001” (inspirada na obra de Kubrick) fala sobre a corrida espacial, corrida contra o tempo, no mais tradicional sotaque interiorano. “No braço de 2000 anos, eu nasci sem ter idade. Sou casado, sou solteiro, sou baiano e estrangeiro. Meu sangue é de gasolina, correndo não tenho mágoas. Meu peito é de sal de frutas, fervendo num copo d’água”.